“Nuestro objetivo final es nada menos que lograr la integración del cine latinoamericano. Así de simple, y así de desmesurado”.
Gabriel García Márquez
Presidente (1927-2014)

NOTICIA


  • Libro rescata el legado del crítico de cine brasileño Walter da Silveira

    Walter da Silveira vivia fazendo anotações. Minucioso, esses escritos se espalharam em vários papéis que se tornaram documentos importantes para a história, anos após serem redigidos. O baiano, advogado de formação, também era escritor, historiador, militante e se dedicou ao que rendeu um grande legado: a crítica de cinema.
    Não é exagero dizer que o cinema na Bahia nasce a partir de Walter da Silveira. A fundação do Clube de Cinema da Bahia, em 1950, é o ponto de partida para o estudo e produção cinematográfica baiana.
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    “Tendo cá as minhas ideias e suposições em torno do cinema nacional, e sabendo quanto você tem outras - coincidentes ou opostas, é preciso constatar, nada melhor do que um diálogo entre nós”
    Walter da Silveira, carta para Glauber Rocha (6.1.1964)
    Formador da figura mais importante do Cinema Novo, o cineasta Glauber Rocha, a produção intelectual e os feitos de Walter da Silveira enriqueceram a cultura cinematográfica do país. No próximo dia 5, são completados 50 anos da morte do soteropolitano, causada por um câncer renal aos 55 anos.
    Walter formou uma primeira geração de críticos de cinema e passou a fazer parte de uma rede de articulação na construção do próprio cinema brasileiro. E também atuou no campo político. Eventos como o Festival Internacional de Cinema, realizado na década de 1950, foram muito importantes para colocar a Bahia em um cenário emergente, ao lado das grandes companhias do Rio de Janeiro (Atlântida) e São Paulo (Vera Cruz).
    A produção intelectual do crítico foi muito abundante e complexa, como mostra o livro Walter da Silveira e o cinema moderno no Brasil – Críticas, artigos, cartas, documentos, organizado pela pesquisadora Cyntia Nogueira, publicado pela editora Edufba, com lançamento virtual no próximo dia 3, estendendo-se com webinários até o dia 5, promovidos pela Cinemateca da Bahia.
    Walter valorizava a articulação entre a dimensão política, econômica e estético-cultural, mas sobretudo a importância que ele atribuiu à crítica cinematográfica revolucionou o olhar para o cinema.
    Na década de 1940, ele levanta questões que ainda hoje fazem parte das reflexões e combates do cinema brasileiro, como a dimensão da autonomia política, econômica e artística, e de uma escola nacional, que se tornam relevantes principalmente num momento difícil como o atual.
    Ele também defendia a democratização do cinema, tanto na sua realização como no consumo. “O cinema, nascendo das massas e para as massas, deve democratizar, até mesmo para os analfabetos, a beleza e a verdade que até agora não chegavam propriamente ao povo. A condição de arte não decai quando a arte desce ao povo; pelo contrário, ganha proporção [...] O cinema, para ser cinema, não precisa superintelectualizar-se, de formar um teorema cuja demonstração só chegue para um número reduzido de estudiosos”, escreveu ele no artigo O verdadeiro cinema puro, presente no livro.
    Walter sonhava com um cinema comprometido com a realidade brasileira, que dialogasse com as nossas referências culturais e pensado a partir das condições de realização e não a partir de um modelo ideal. Na época, o debate era polarizado entre os admiradores de Hollywood, e a partir dos anos 1950 surgem aqueles a favor de um estilo próprio.
    A organizadora do livro e pesquisadora Cyntia Nogueira || Ag. A TARDEA organizadora do livro e pesquisadora Cyntia Nogueira || Ag. A TARDE
    Cinema e pensamento
    Éinegável a importância de Walter da Silveira para a produção cinematográfica no Brasil. Só que encontrar e reunir essas ideias não era uma tarefa fácil. O livro que será publicado coincidentemente quando se completa meio século da morte do crítico consegue essa proeza e vai além, resgatando  anotações fortuitas sem datas,  passagens e bilhetes que ampliam a compreensão do seu pensamento.
    O projeto havia sido pensado há cinco anos, mas a pesquisa começou, de fato, no início de 2018. Foram dois anos no processo de pesquisa, a partir da doação do acervo de Walter de Silveira pela família para o museu da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), em 2015.
    De acordo com Cyntia Nogueira, professora do curso de cinema e audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), o livro surgiu a partir da percepção de uma lacuna no estudo de cinema na Bahia.
     “Como pesquisadora e professora, a ausência de textos sobre ele sempre me chamou a atenção. Tanto no que se refere à sua produção intelectual como à sua atuação no cinema da Bahia como mestre de uma geração”, diz ela.
    Dividido em seis capítulos, o livro apresenta um conjunto de críticas, teses, ensaios e artigos publicados por Walter da Silveira sobre o cinema brasileiro e baiano.
    A publicação também reúne um conjunto de 50 cartas que mostram bem a personalidade de Walter trocadas com o cineasta Alex Viany, o crítico Paulo Emílio Sales Gomes e o  cineasta Glauber Rocha, além de documentos, fortuna crítica, linha do tempo e um dossiê com artigos inéditos de pesquisadores da área de cinema.
    Para nortear a pesquisa, a coletânea de quatro volumes  Walter da Silveira: o eterno e o efêmero, de José Umberto Dias, publicada em 2006, foi uma referência, com artigos de Walter da Silveira do fim da década de 1920 até os anos 70. 
    No entanto, a historiadora Manuela Muniz, que colaborou  em todo o processo de pesquisa do livro  e com um artigo inédito, conta que a coletânea apresentava algumas lacunas, por causa da época em que foi feita, como artigos incompletos e duplicados. “Fizemos uma pesquisa extensa para recuperar os originais de Walter da Silveira”.
    Atualidade
    A produção de Walter da Silveira contribuiu para a modernização do país e sobre como poderia ser esse desenvolvimento, o que ainda  dialoga com o  presente, diante das crises no campo cultural. “Walter via a crítica e atribuía à crítica uma função criadora”, afirma Cyntia.
    Ela conta que até os anos 1950 existia uma insatisfação muito grande com a qualidade estética na produção, sendo o Cinema Novo o marco do ponto de vista estético dentro da história do cinema brasileiro, quando  passa a ser visto como uma expressão artística nos meios intelectuais. Diante disso, Walter vai defender  essa função criadora. “Se a crítica tinha o direito de tirar qualidade, tinha o dever de apontar caminhos também”.
    De acordo com Manuela, o pensamento do intelectual baiano  ainda hoje norteia o cinema: “É muito importante lançar esse livro agora, porque trata de um ciclo que a gente passou e que é algo próximo do que estamos passando neste momento. Conseguimos atualizar esse pensamento, não tomar como algo pronto, mas atualizar para o  tempo atual”.
    Para a professora da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) Izabel Melo, o crítico foi um interlocutor que continua fundamental, principalmente pela perspectiva humanista que tinha de pensar as artes.
    “A maneira que ele pensava e organizava um cineclubismo amplo e aproximava as pessoas de forma geral, a ideia da crítica e o lugar do cinema e filmes brasileiros”. Para ela, tudo isso continua valendo para entender como se fazer cinema ainda hoje.
    Inéditos
    Para o livro Walter da Silveira e o cinema moderno no Brasil, Izabel Melo produziu o artigo Walter da Silveira e o Clube de Cinema da Bahia. A  ideia da pesquisadora foi fazer uma abordagem a partir da atuação do crítico de uma forma mais ampla – como ele surge, a relação com o campo cinematográfico brasileiro, com o campo cultural baiano e em Salvador, as finalidades do clube, o que se tentou fazer, o que de fato conseguiu e o que não conseguiu são aspectos de suas reflexões.
    Ler o artigo de Izabel é como ter uma apresentação do cineclube, principalmente nos anos 1960, porque, de acordo com ela, se fala muito dos anos 1950, e o objetivo foi ampliar tal conhecimento.
    Já Manuela fez a resenha crítica de Afinidades eletivas: as trocas intelectuais e afetivas entre Walter da Silveira e Glauber Rocha,  dissertação apresentada recentemente por Cláudio Gonçalves da Costa.
    Ela considera que  ainda havia um trabalho minucioso sobre a relação dos dois e a ideia foi lançar luz sobre esse importante diálogo entre Walter e Glauber.
    Numa carta datada de 6 de janeiro de 1964, Walter escreveu: “Meu caro Glauber, dialogar com você sempre foi para mim necessário, embora para você, conforme penso, nem sempre o fosse. Eu me corrijo conversando, discutindo, mais do que lendo. Tendo cá as minhas ideias e suposições em torno do cinema nacional, e sabendo quanto você tem outras – coincidentes ou opostas, é preciso constatar –, nada melhor do que um diálogo entre nós. Felizmente, ele já restabelecido com sua carta”.
    A complexidade e a abrangência do pensamento de Walter foram desafiadoras para a organizadora da publicação estabelecer  em um único volume. Separar os textos, buscar os originais e os textos mais completos foi a escolha para o projeto. 
    “Walter tinha o hábito de reaproveitar textos. Ele escrevia o artigo em jornal e depois aquilo aprofundava para uma tese, então, eram várias versões de um mesmo texto”, comenta Cyntia.
    A precariedade da situação dos arquivos também foi um desafio. De acordo com a organizadora, alguns estavam inacessíveis, e mesmo a ABI tendo bastante cuidado, ela reconhece que  a falta de recursos pesa bastante. 
    O lançamento do livro, que tem projeto gráfico do designer Gil Maciel, acontece nesta terça-feira, dia 3, às 19h, no YouTube da Fundação Cultural do Estado da Bahia (TV Funceb).

    (Fuente: Atarde.uol.com.br)


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