Cuando escribí sobre el thriller Isolados, apunté que este filme constituía un ejercicio de género que no añadía ningún regionalismo al proyecto, y por lo tanto podría haber sido realizado en cualquier país. Sin embargo, lo contrario ocurre en A Estrada 47: aunque es un filme bélico que acompaña a un grupo de soldados en el invierno europeo durante la Segunda Guerra Mundial, el trabajo de Vicente Ferraz no podría ser más brasileño. Si bien, estéticamente el largo remite con eficiencia a otros del género bélico producidos por Hollywood y por cineastas europeos; sus personajes y su sensibilidad son típicamente brasileños – y este es apenas uno de los elementos que transforman a este filme en una experiencia memorable.

Escrito por el propio director, el proyecto acompaña a un grupo de soldados pertenecientes a la FEB (Fuerza Expedicionaria Brasileña) que, enviados a luchar bajo el liderazgo de generales norteamericanos contra las fuerzas del Eje, entran en pánico una noche cuando una misión sale mal, y se diseminan por la región. Temiendo ser expulsos del ejército como desertores, cuatro de ellos deciden asumir una misión arriesgada: liberar la calle que da título al filme, repleta de minas antitanques, para así despejar el camino para que las tropas de los Estados Unidos lleguen a una aldea local que se encuentra a punto de caer bajo el dominio de los soldados alemanes. En el proceso, encuentran a un desertor italiano (Rubini) y a otro alemán (Sammel), y se establece una dinámica tensa que se torna todavía más dramática en función del clima helado que los envuelve.

Abriendo la proyección con imágenes de archivo, A Estrada 47 no demora en ilustrar el hecho de que mandamos a nuestros hombres a un conflicto mortal sin que tuvieran preparación táctica o psicológica para ello – y  cuando el oficial alemán señala que es “absurdo” que los brasileños se involucren en la guerra, resulta algo difícil de refutar, aunque supiéramos  que luchaban del lado justo. Así, cuando vemos al poco calificado teniente Penha, quien lidera el grupo, ser constantemente irrespetado por los subordinados, ello resalta el amateurismo de un grupo integrado por un ingeniero amedrentado que se alistó por insistencia de su padre, un paraibano que, que en el clímax del miedo, parece regresar psicológicamente a la infancia, y un sargento que, aunque valiente, no oculta su desprecio por su superior.

Anclado en la narración rencorosa de Guima (el ingeniero interpretado por Daniel de Oliveira), que enfrenta el horror de la guerra como una imposición odiosa del padre y no duda en culparlo por su situación, el largo es  al mismo tiempo una "road movie", un filme bélico, un estudio de caracteres, un drama personal y una discusión filosófica sobre la naturaleza de la muerte y de los  conflictos bélicos;  y funciona la mayor parte del tiempo según esta combinación compleja. Su mayor virtud, entonces, reside en su capacidad de humanizar a todos esos  individuos, desde el divertido Piauí al sospechoso oficial alemán. No es por casualidad que, a lo largo de la narrativa, estos hombres cambien constantemente de opinión unos respecto a los otros, lo que refleja la reacción de los propios espectadores y corrobora la excelente calidad del elenco.

Beneficiado por la excelente fotografía de Carlos Arango de Montis, que confiere al proyecto tonos que destacan el frio y la presencia opresiva de la nieve, A Estrada 47 también utiliza con mucho  talento las excelentes locaciones, lo que permite que sigamos sin dificultad la trayectoria de los personajes, las distancias que recorren y las condiciones difíciles que enfrentan. Además de ello, la edición de Mair Tavares resulta eficiente al mantener un ritmo intenso, y crear al mismo tiempo pequeños momentos de pausa para que podamos acompañar las interacciones más íntimas de aquellos soldados.

Divertido e estableciendo su particularidad dentro del género, al reflejar a informalidad típica del brasileño aun en situaciones desesperanzadoras  (“Cual es nuestra división?”), el filme de Vicente Ferraz está repleto de instantes conmovedores de delicadeza sorprendente – la escena que sucede dentro de un tanque, en la que se mezcla el intercambio de fotografías y una samba improvisada, pasa de las risas a las lágrimas sin dificultad. En este proceso, se honra a aquellos soldados que, aunque no preparados para lo que iban a enfrentar, reaccionaron como héroes y honraron a la nación amigable y sin tradición bélica que ellos representaron.

                                                                     Traducido por Fidel Jesús Quirós

Quando escrevi sobre o thriller Isolados, apontei que este fazia um exercício de gênero sem adicionar qualquer regionalismo ao projeto, que, assim, poderia ter sido realizado em qualquer país. Pois o contrário ocorre neste A Estrada 47: embora seja um filme de guerra que acompanha um grupo de soldados no inverno europeu durante a Segunda Guerra Mundial, o trabalho de Vicente Ferraz não poderia ser mais brasileiro. Sim, esteticamente o longa remete com eficiência a outros do gênero produzidos por Hollywood e por cineastas europeus; seus personagens e sua sensibilidade, porém, são caracteristicamente brasileiros – e este é apenas um dos elementos que o transformam em uma experiência memorável.

Roteirizado pelo próprio diretor, o projeto acompanha um grupo de soldados pertencentes à FEB (Força Expedicionária Brasileira) que, enviados para lutar sob a liderança de generais norte-americanos contra as forças do Eixo, certa noite entram em pânico quando uma missão é mal sucedida, levando-os a se espalhar pela região. Temendo serem expulsos do exército como desertores, quatro deles decidem assumir uma missão arriscada: liberar a estrada do título, que encontra-se repleta de minas antitanques, e assim abrir o caminho para que as tropas dos Estados Unidos cheguem a um vilarejo local que se encontra prestes a cair sob o domínio de soldados alemães. No processo, eles acabam encontrando um desertor italiano (Rubini) e outro alemão (Sammel), estabelecendo uma dinâmica tensa que se torna ainda mais dramática em função do clima gelado que os envolve.

Abrindo a projeção com imagens de arquivo, A Estrada 47 não demora a ilustrar como mandamos vários de nossos homens para um conflito mortal sem que tivessem preparação tática ou psicológica para o mesmo – e quando o oficial alemão aponta que é “absurdo” que brasileiros se envolvam na guerra, torna-se difícil discordar mesmo sabendo que lutávamos do lado certo. Assim, quando testemunhamos o despreparo do tenente Penha (Andrade), que lidera o grupo e é constantemente desrespeitado pelos subordinados (sendo obrigado a insistir para que o chamem pela patente), isto só ressalta o amadorismo de um grupo que ainda conta com um engenheiro amedrontado que se alistou por insistência do pai (Oliveira), um paraibano que, no auge do pânico, parece regressar psicologicamente, passando a gritar chamados de vaqueiro (Gaspar) e um sargento que, embora valente, não esconde seu desprezo pelo superior (Thogun).

Ancorado pela narração rancorosa de Guima (o engenheiro vivido por Daniel de Oliveira), que encara o horror à sua volta como uma imposição odiosa do pai e não hesita em culpá-lo por sua situação, o longa é, ao mesmo tempo, um road movie, um filme de guerra, um estudo de personagens, um drama pessoal e uma discussão filosófica sobre a natureza da morte e dos conflitos bélicos – e funciona na maior parte do tempo nesta sua combinação complexa. Sua maior virtude, porém, reside em sua capacidade de humanizar todos aqueles indivíduos, do divertido Piauí ao suspeito oficial alemão, não sendo por acaso que, ao longo da narrativa, aqueles homens mudem constantemente de opinião a respeito uns dos outros, refletindo a reação do próprio espectador e comprovando a ótima qualidade do elenco.

Beneficiado pela ótima fotografia de Carlos Arango de Montis, que confere ao projeto tons que salientam o frio e a presença opressiva da neve, A Estrada 47 também emprega com talento as excelentes locações, permitindo que acompanhemos sem dificuldade a trajetória dos personagens, a distância que percorrem e as condições difíceis que enfrentam. Além disso, a montagem de Mair Tavares é eficiente ao manter um ritmo intenso mesmo criando pequenos momentos de pausa para que possamos acompanhar interações mais intimistas entre aqueles soldados.

Divertido e estabelecendo sua particularidade dentro do gênero ao empregar a informalidade típica do brasileiro mesmo em uma situação desesperadora (“Qual é a nossa divisão mesmo?”), o filme de Vicente Ferraz é repleto de instantes tocantes e de delicadeza surpreendente – e a cena que se passa dentro de um tanque e que envolve trocas de fotografias e mesmo um samba improvisado vai do riso às lágrimas sem dificuldades. E, no processo, honra aqueles soldados que, mesmo despreparados para o que viriam a enfrentar, agiram como heróis e honraram a nação amigável e sem tradição bélica que ali representavam.