Laureado em Sundance, a animação “Fuga” (“Flee”), assinada por Jonas Poher Rasmussen, com foco na luta de um intelectual afegão com os segredos dos seu passado, será o filme de abertura da 26ª edição do É Tudo Verdade, a ser realizado de 8 a 18 de abril.
Para o encerramento, a maratona documental pilotada pelo crítico e curador Amir Labaki escolheu um estudo sobre os povos originários que representou o Brasil na Berlinale, no início deste mês: “A Última Floresta”, de Luiz Bolognesi, que coescreveu o roteiro com o xamã Davi Kopenawa. Labaki convocou algumas das mais inquietas vozes da não ficção no seu país para concorrer, marcando a volta de Anna Muylaert (de “Que Horas Ela Volta?”) aos ecrãs, depois de um hiato de cinco anos.
Em eventos paralelos, o ETV vai celebrar, num requiem, o centenário de Chris Marker (1921-2012), realizador de “Sem Sol” (1983), e fazer uma mostra dos documentários de Ruy Guerra, como “Os Comprometidos – Actas de um processo de descolonização” (1984) e “Mueda: Memória e Massacre” (1979/80). Haverá ainda a seção Caetano .Doc, que reúne filmes ligados pelo lirismo do cantor Caetano Veloso.
“Nós todos temos saudades do É Tudo Verdade presencial, mas é uma lição importante do festival digital na pandemia é preservar esse carácter híbrido de manter o que acontece em salas também no ambiente online”, disse Labaki na conferência de imprensa do evento, que ocorre no seu site, envolvendo ainda as plataformas Looke e SPCine Play.
Acerca do filme de abertura, Labaki destacou a singularidade de “Fuga” (“Flee”) ao debater “uma realidade complicada que é fugir da tirania para encontrar a felicidade”. “Uma das coisas mais interessantes no cinema contemporâneo é a porosidade entre os géneros e a utilização da animação no documentário tem essa marca. No caso do ‘Flee’, havia uma resistência do protagonista em mostrar a própria cara. E a animação foi uma saída para que o realizador pudesse contar a história dele”, disse Labaki ao C7nema. “Colocar um documentário animado na abertura sinaliza a amplitude do campo documental, num momento em que conseguimos romper estigmas”.